Os 30 anos de fundação do Grupo de Apoio à Vida – GAV, em Campina Grande, foi lembrado em sessão especial realizada nesta terça-feira (23), na Câmara Municipal de Campina Grande, uma propositura do vereador Olímpio Oliveira (Podemos).
Justificativa de propositura
O vereador Olímpio Oliveira, autor da propositura, justificou a realização da Sessão Especial ressaltando a importância do Grupo de Apoio à Vida, que alcança muitas famílias de Campina Grande e do compartimento da Borborema.
O vereador também falou sobre a origem da instituição, relembrando quando era negado o atendimento ao portador do vírus, sendo o GAV responsável por enfrentar preconceitos, chamando atenção das autoridades.
No percurso de 30 anos, o vereador disse que o GAV foi instrumento na luta contra preconceitos, mesmo com a limitação de recursos, levando também para a população uma mensagem de acolhimento e de apoio. Com relação às subvenções, destinadas pelo Poder Executivo, no valor de R$2.000,00, o vereador destacou o valor irrisório e também os atrasos de pagamento, discordando do tratamento destinado para uma instituição que faz o papel do poder público.
A vereadora Fabiana Gomes (UNIÃO Brasil) ressaltou a brilhante iniciativa da propositura e a relevância do reconhecimento da instituição e passou a presidência da sessão para o vereador autor da propositura.
Joseilton Brito – Coordenador Adjunto do GAV – prestou agradecimentos pela propositura e pelos vereadores presentes, registrando em seguida a história da fundação da entidade, em 1994, assim como seus objetivos e os 30 anos de sua existência. Ele relembrou quando uma pessoa portadora de HIV – AIDS foi expulsa de um hospital, sendo este um marco da organização do grupo.
Sobre dados atuais de pessoas portadoras de HIV-AIDS e de acordo com o UNAIDS (Programação da Organização das Nações Unidas), cerca de 39 milhões de pessoas convivem com o HIV. Desses, nove milhões ainda não têm acesso a tratamento digno. Na Paraíba, o número chega a aproximadamente 12 mil casos, sendo o 5º estado do Nordeste com maior número de casos.
Joseilton registrou que essas pessoas ainda enfrentam violação dos seus direitos, de cidadania e vulnerabilidade política e social, muitas em completo abandono e em comunidades carentes periféricas, enfrentando a extrema pobreza. Nesse sentido, o atual relatório da UNAIDS incentiva que todos os governos fortaleçam as comunidades locais, porém, a falta de financiamentos, desigualdade social e os estigmas, impedem esses avanços.
Joseilton Brito, mencionou ainda a parceria do GAV com o SUS, facilitando o retorno dos pacientes nos ambulatórios, incentivando a adesão e acompanhando os tratamentos, além de mencionar os voluntários e apoiadores, parabenizando todos que fazem parte. O coordenador adjunto também fez destaque aos atrasos no pagamento da subvenção pelo poder executivo, recurso que é utilizado para manter a estrutura da instituição, sobretudo porque a sede é alugada.
Mónica Franch, Professora da UFPB – Coordenadora do Projeto ‘Falando sobre AIDS’, ressaltou a importância para a universidade na participação de uma sessão relevante que trata sobre o 30º Aniversário do Grupo de Apoio à Vida – GAV. Ela também falou sobre o lugar que o Brasil teve internacionalmente, na realização de uma política de tratamento universal para pessoas portadoras de HIV, mas que o avanço só foi possível, através da participação da sociedade civil. Sobre esses avanços, registrou a importância, sobretudo no campo dos tratamentos, mas que ainda não foi eliminado um dos principais problemas que é a questão do estigma e do preconceito.
Nesse sentido, frisou o papel do GAV, que há 30 anos está tentando dialogar com a sociedade, sendo fundamental nesse processo. Por fim, mencionou a Universidade como uma parceira na construção, destacando que a Paraíba enfrenta seus desafios, principalmente na invisibilidade crescente do tema.
Magnólia Sandra Maciel – Psicóloga do GAV e orientadora pedagógica do CENAP – iniciou a sua fala, destacando o preconceito que ainda persiste na sociedade, sendo o motivo pelo qual os usuários do GAV, apesar de convidados, não quiseram participar.
Ela falou também sobre uma jovem de 28 anos, que na época do início da vacinação COVID foi questionada o motivo pelo qual estaria recebendo a vacina no grupo prioritário, demonstrando que os profissionais de saúde ainda não estão preparados para esse público.
A psicóloga ainda falou sobre o choque que as pessoas sentem ao receberem o diagnóstico do HIV-AIDS e que quando profissional, continuará nesta luta e apoio. Concluindo, falou que o GAV não possui sede própria e que acredita que os recursos de subvenção são muito inferiores para a prefeitura, não justificando os atrasos.
Maio Quirino – doutorando da UFPB, falou sobre sua trajetória enquanto membro do GAV (1994-2004), ressaltando o início da fundação da instituição, que aglutinou um diverso grupo da sociedade civil. Ele destacou que foi um impacto muito grande, principalmente quando se registrou o primeiro caso com internação (1994), em que o paciente sofreu preconceito e foi expulso do hospital municipal.
Maio registrou ainda que o GAV foi a primeira ONG do país que rompeu com a forma de fazer resistência, pois agregava pessoas que conviviam e não conviviam com HIV-AIDS e falou sobre a atuação da instituição, com comissões que realizavam diversas ações.
Apesar disso, ele ressaltou que o preconceito ainda tem sido uma barreira, visto que em João Pessoa, tem casos de UBER’s que tem se recusado a levar pessoas para o hospital referência em tratamento. Ele também fez um apelo para que o poder público trabalhe o estigma e o preconceito contra essas pessoas, além de parabenizar o GAV.
Napoleão Maracajá (PT) também falou sobre a importância do momento da realização da sessão especial e adentrou sobre o tema da subvenção destinada pelo poder executivo. O vereador disse não acreditar que a subvenção possua esse valor irrisório, mas falou sobre a aprovação do orçamento impositivo, que poderá ajudar a instituição, visto que uma das suas emendas é para o GAV.
Napoleão informou que a emenda já foi sancionada, que já consta no semanário e que o poder executivo tem até junho para realizar o repasse para as instituições. Por fim, parabenizou a todos, principalmente ao Grupo de Apoio à Vida.
Glaucia Maria – Presidente da RNP – representante da Rede Nacional de Pessoas convivendo com HIV-AIDS, primeiramente parabenizou o GAV e em seguida falou sobre o seu diagnóstico na década de 90 e o estigma existente, que era sempre relacionado com a promiscuidade, o que não era a sua realidade. Ela acrescentou que infelizmente o preconceito na atualidade não é diferente e em nome de todas as outras pessoas que também convivem com o HIV, pediu que o poder público tivesse um olhar mais específico, já que a AIDS não tem cura e que as pessoas continuam sendo vítimas da ausência do tratamento adequado.
Suzana – Assistente Social Voluntária, falou sobre seus 14 anos de voluntariado no GAV, iniciando no ano de 2008, além de parabenizar a instituição. Apesar disso, falou que a luta não é tão reconhecida como deveria e que as pessoas continuam precisando de assistência. Suzana ressaltou ainda o papel da instituição, que durante todos esses anos, presta assistência às pessoas que convivem com AIDS e a seus familiares. Por fim, clamou ao poder público mais incentivo e reconhecimento.
Sérgio Dantas, convidado, destacou que a luta não é apenas de pessoas portadoras de HIV-AIDS, mas que esta é uma causa pública que todos devem apoiar e incentivar. Ele fez um apelo para que o poder público e os vereadores tenham um olhar diferenciado e possam sempre apoiar a causa.
Redação /DIVICOM/CMCG
Foto: Josenildo Costa