
O baque político na Bolívia finalmente se concretizou, e o ciclo da esquerda bolivariana, que perdurou por duas décadas, foi encerrado nas urnas. A “paz” eleitoral chegou com Rodrigo Paz, o presidente eleito, conservador.
Para o Brasil, a mudança de poder na Bolívia reabre um capítulo delicado e de triste lembrança: a nacionalização das duas refinarias da Petrobras pelo então presidente Evo Morales em 2006. À época, o episódio foi marcado pela ocupação militar das instalações pela Bolívia, gerando no Brasil a sensação de uma “invasão” e perda de patrimônio, apesar de o desfecho formal ter sido a venda das refinarias pelo governo brasileiro ao Estado boliviano por um valor que gerou controvérsia e questionamentos sobre ter sido o “preço justo”.
Agora, com um governo de direita no poder em La Paz, a grande questão que ecoa no cenário político e econômico brasileiro é: o Brasil vai cobrar a fatura desse passado?
Será que a nova administração boliviana, de orientação ideológica oposta à de Morales e ao antigo governo brasileiro que conduziu o acordo, criará um ambiente propício para renegociações ou, ao menos, para um reexame daquele negócio? A narrativa brasileira, que sempre oscilou entre a “invasão a mando de Evo Morales” e o “acordo/protocolo entre poderes de esquerda da América do Sul”, pode finalmente ser confrontada com uma nova realidade política.
O alívio pela quebra da hegemonia da esquerda na Bolívia é um fato para muitos no Brasil. Mas a expectativa real se concentra em saber: a nova direita boliviana irá facilitar um acerto de contas histórico, ou a questão da Petrobras e de suas refinarias permanecerá como um trauma mal resolvido, “entre companheiros”, enterrado por acordos políticos passados? A resposta a essa pergunta definirá se o Brasil, de fato, buscará reequilibrar a balança daquele polêmico episódio.
Redação Plenarioemfoco